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Cara Jociele,

 

Sempre percebi que você sabe que é de paixão e coragem que se faz a pintura. Por isso os verdadeiros pintores em ação, bem como suas obras, se negam a desaparecer, apesar dos reiterados esforços empreendidos pelas tendências hegemônicas de plantão. Tarkovski nos alerta que aqueles dois grandes elementos precisam estar ancorados no horizonte maior da fé. Não a fé sectária dos fundamentalismos, mas aquela sem a qual todo artista seria como "um pintor que houvesse nascido cego". Estou muito contente com sua exposição. Desde que você andarilhava pelo Vale Vêneto ateando fogo às cores, era bem visível seu apego maior às tintas e à coragem da pintura. Em sua obra, o gesto colorido, a mancha estrutural, o concerto cromático, sempre me pareceram localizados na gênese da criação, pouco importando se transparentes, leves, diáfanos ou com a forte densidade das texturas táteis. Por outro lado, a paisagem, em suas diversas acepções e épocas, se mostra uma espécie de leitmotiv para seus trabalhos, mesmo quando eles não evidenciam o referido motivo. Da sua liberdade alegre e até mesmo dos momentos de felicidade que transparecem quando você se envolve com as "leituras" paisagísticas, nascem os principais elementos plásticos (e até mesmo gráficos) que também se consolidam ao longo de outras incursões criativas, habitualmente muito próximas dos afagos sensuais das tintas. É a pintura. E ao pintor não existem muitas outras opções.      

                                             

 

Com um grande abraço,

Alphonsus Benetti

Santa Maria/RS, outono de 2016

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